terça-feira, 1 de setembro de 2015

[NOVA AVENTURA] - O Início - Felipe Jacobs

O ano (ou Cômputo dos Vales) é 1372, sucessor do ano chamado O Ano Da Harpa Que Não Foi Tocada. Estamos no quinto dia da segunda cavalgada de Kythorn (Junho), ou seja, dia 15 de Kythorn, mês que é considerado o início da época das flores, onde o cenário branco e gelado das neves dá lugar ao gracioso mar de cores vivas. O vento, que antes era como uma lâmina gelada ao tocar a pele, transforma-se em uma brisa leve e aprazível, que, em sua suavidade, transporta uma mistura de cheiros adocicados e amadeirados oriundos das belas flores de primavera e das florestas ao redor do reino. Pássaros retornam aos campos de Cormyr após meses de viagem e oferecem todo o encanto de seus cânticos, gratuitamente, a todos os cidadãos Cormyrianos. Sem dúvida, essa transição de estação, de gelo e frio para cores, flores e temperaturas amenas, pode representar renovação e paz numa analogia simplória. Entretanto, essa não é a realidade do reino de Cormyr. Na verdade, é o oposto disso.

Após anos de paz e prosperidade sob o reinado de Azoun IV, o reino púrpura está passando por um período conturbado. Tudo começou recentemente, no último Cômputo dos Vales, 1371, quando uma horda de Ghazneths, Goblins e Orcs, comandada pelo grande Dragão Diabólico, o Vermelho, invadiu o reino de Cormyr, saqueando e destruindo cidades, entre elas, a mais afetada, Arabel. Nessa mesma cidade, Azoun IV liderou os cavaleiros púrpuras numa tentativa de rechaçar as tropas inimigas e, num ato de bravura e coragem, lutou contra o grande dragão até a morte, levando-o consigo. Após a morte de Azoun IV, a Princesa Tanalesta tomou para si a responsabilidade e liderou eficientemente os ataques, conseguindo conter, por pouco tempo, as tropas inimigas que invadiam Arabel por todos os lados. Nesse momento, deu a luz a Azoun V, o novo Rei de Cormyr, mas, infelizmente, pereceu no parto. Não bastasse a morte do Rei e da Princesa, o povo de Cormyr perdeu também o seu poderoso Mago Real, Vangerdahast, que fora treinado pelo lendário Elminster. O paradeiro de Vangerdahast é desconhecido, não há evidências de sua morte e muitos dizem que ele simplesmente abandonou seu Rei e seu povo. Essa época ficou conhecida como a “Guerra dos Goblins”, embora, curiosamente, havia mais Orcs do que Goblins. Com a morte do Rei Azoun IV e com o recém-nascido Azoun V incapaz de reinar devido a sua idade, a Princesa de Aço, Alusair Obarskyr, tornou-se regente de Cormyr, até que o novo Rei tenha idade suficiente para reinar. Caladnei tornou-se a nova Maga Real, ocupando o posto do desaparecido Vangerdahast. As tropas púrpuras recuaram para Suzail, deixando Arabel e outras partes de Cormyr a deriva. Correm boatos por Suzail de que Arabel e seus arredores continuam, até hoje, infestados de criaturas.

Além disso, há alguns dias, mais precisamente em 27 de Mirtul (Maio), notícias de que Tilverton, uma cidade estratégica ao norte de Cormyr, foi completamente dizimada, espalhou-se pelo reino. Segundo os boatos, há uma espécie de névoa negra ao redor da cidade e não há sinais dos seus cidadãos.

Esses acontecimentos enfraqueceram o Reino Púrpura. A morte do Rei, o sumiço do Mago Real, a perda misteriosa de uma cidade estratégica e a invasão de criaturas por todo o reino fazem com que nobres insatisfeitos e algumas organizações fiquem a espreita, aguardando ansiosamente um momento para agir e tomar o poder de Cormyr. Portanto, a regente tem um gigantesco desafio em suas mãos: manter o reino unido enquanto luta pela ascensão e reconstrução do mesmo.

Existe uma lei em Cormyr a qual diz: “aventureiros devem adquirir uma carta-patente antes de empreender qualquer operação e/ou aventura em grupo”. Entretanto, com o contingente de Dragões Púrpura dividido e sobrecarregado (alguns defendendo Suzail, outros investigando Tilverton, outros protegendo as estradas) correm notícias entre aventureiros de que essa lei foi revogada temporariamente e que a Regente Alusair está oferecendo terras àqueles que oferecem (e cumprem) ajuda ao Reino.

Além disso, a fim de direcionar a atenção dos cidadãos para outros assuntos que não sejam tragédias e distrai-los enquanto seu exército investiga o acontecido em Tilverton, a Regente organizou, pela primeira vez no Reino de Cormyr, uma luta entre gladiadores. Esse evento está ocorrendo desde o primeiro dia dessa cavalgada e, hoje, é a grande final, onde o vencedor receberá sua tão sonhada liberdade  e uma pequena quantia de leões de ouro!

Com certeza os próximos dias, meses e anos serão de muita expectativa e tensão no Reino Púrpura. Será a Regente, popularmente conhecida como Princesa de Aço, capaz de honrar o título que carrega e reerguer Cormyr? Será que nesses tempos difíceis surgirão novos heróis dispostos a recuperar o orgulho da nação a qual já foi a mais poderosa de toda a Faerûn?

"E nesta terra eu vou ficar orgulhosamente,
Até o dia da minha morte, senhor;
Por qualquer Rei, durante todo comando,
Eu ainda vou ser um bravo Cormyriano, senhor."
                                                     
                                                          O Orgulho Cormyriano.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

[RELATO 5] A Fuga - Oskar Balderk

Sem noção do tempo, cansado, machucado, com fome, me sentia nu e indefeso sem a minha armadura, e ainda, uma sensação de que as coisas iriam piorar a qualquer momento.
Preso em uma “caixa” de pedra com uma grade de ferro fechada por um cadeado, muitas coisas passavam pela minha cabeça, e a que mais me irritava era o cárcere, e a perca da minha liberdade.
A sensação que aquela cela me proporcionava me causava um sentimento de impotência, que nunca antes havia sentido, ainda mais por seres tão inferiores ao glorioso Clã dos Anões do Escudo.
Minha intuição me dizia que um de nós poderia morrer a qualquer momento, mas pior que a morte, é o medo de se tornar um escravo desses malditos goblins.
Em um misto de desespero e ânsia pela liberdade, eu penso “NÃO! Isso não pode continuar, preciso reagir, preciso pensar em alguma coisa rápido”. Porém, no mesmo momento, recuo e penso, “Não posso por a vida de meus amigos em risco”.
Minha cabeça era um turbilhão de pensamentos, planos e estratégias para sair dali, porém, meu corpo não estava tão vivo quanto a minha mente, estávamos todos fracos, famintos e abatidos, sem esperanças de que algo fosse melhorar.
De repente, um barulho diferente, era aquele maldito goblin abrindo a minha cela e me mandando sair, ele me encarava, mas eu podia ver o medo em seus olhos. E ele diz em um tom receoso: “Anão, me siga o mestre deseja a sua presença”.
E então, fui arrastado com força para fora da cela, pelo hobgoblin. Fui escoltado pelos dois até a sala do ogro. Chegando lá, o ogro me olha da cabeça aos pés e diz com certo tom de superioridade “venha comigo” e eu o acompanhei por alguns metros até entrarmos em outra sala, onde o que se via era um buraco nas pedras em volta de um grande lago.
Enquanto reconhecia o local, ouvia as instruções do ogro, que me dizia para que eu esculpisse uma porta de pedra, eu concordei, mas que iria precisar de ajuda, como já esperava, o pedido foi negado e esbravejando disse o ogro “comece imediatamente” enquanto apontava para um caixote de ferramentas no canto da sala. Olho para ele com raiva, ele percebendo a minha ira e com um sorriso no rosto me diz: “Você vai gostar de ficar aqui anão, eu sou um bom mestre”.
Aquelas palavras ecoavam na minha mente, como se eu estivesse sendo espancado por uma turba daqueles malditos goblins, depois disso, respirei fundo e comecei a buscar alguma maneira de conseguir aumentar as minhas chances de sair dali, enquanto isso, para não levantar suspeitas batia com o martelo no ponteiro quebrado aquela imensa parede de rocha.
A cada martelada na pedra, eu me imaginava acertando com o meu machado a cabeça de um goblin. Durante esse momento de raiva, tive uma ideia que poderia aumentar a minha chance de nos tirar daquela maldita caverna. E aí, mais do que depressa, desmontei um pequeno martelo que naquele caixote estava, e cuidadosamente, entrelacei o cabo e o martelo na minha barba deixando-os invisíveis, foi humilhante e doloroso, mas tive que abrir mão do orgulho.
Algum tempo depois que não consigo precisar, já com o martelo escondido, os goblins tiraram as ferramentas das minhas mãos e me arrastaram em direção as celas, no caminho, avisto novamente aquele ogro de duas cabeças me encarando com um olhar desconfiado, suei frio, pensei que poderia ser o final da linha, mas ele acenou com a cabeça para o goblin e eles continuaram com a escolta.
Aquele martelo renovou as minhas esperanças, me fez sentir mais confiante, imaginava mil maneiras de agir, mas cheguei à conclusão que deveria esperar o momento certo. Aproveitando de um momento de distração do hobgoblin que guardava a cela, silenciosamente, tirei as peças e montei o martelo.
Durante isso, Edwin e Kheldrim tentavam bolar um plano para escapar, falavam em magia e outras coisas que eu não entendia bem, depois de traçarmos o plano, Kheldrim vai até as grades de sua cela e como um louco começa a gritar, rapidamente, o hobgoblin enfurecido vai até a cela, no mesmo momento Edwin tenta atingi-lo com uma magia, porém falha, e o hobgoblin enfurecido, entra na cela e atinge Kheldrim com um golpe que o atordoa.
Em uma reação desesperada pela vida de meus amigos, faço o mesmo que Kheldrim, grito e bato com toda a minha força nas grades, e o esperado acontece, ele entra na minha cela e me ameaça com a sua espada, e sem pensar, o ataco com o martelo, acertando-o na cabeça, mas isso não foi o suficiente, só consegui o deixar mais furioso. Consigo desviar bem dos golpes dele, até que em uma investida frustrada no hobgoblin ele deixa a sua espada cair, e ai, bato com o martelo com toda a minha força, ele visivelmente sente a contusão causada pelo golpe, eu já exausto pelos golpes desferidos não consigo desviar do revide, e vou a nocaute. Com a visão meio turva, vejo um raio e sinto uma brisa gelada passando rapidamente por mim consigo ouvir o som do hobgoblin caindo já sem vida no chão, era Edwin havia o acertado. Ouço Eobald puxando o corpo da criatura para sua cela e alguns segundos depois, ouço barulho de cadeados se abrindo, Eobald vem em minha direção sussurra algumas palavras e acompanhado de um clarão, minhas forças retornam e minhas energias se renovam.
Imediatamente, me levanto e com a ajuda de Eobald, libertamos nossos amigos, Eobald inspirado pela graça de Tyr, milagrosamente faz com que Kheldrim se levante totalmente recuperado. Nos olhamos, pegamos tudo que poderia ser útil no corpo do hobgoblin e cuidadosamente seguimos em direção ao corredor direito do mapa que Edwin havia copiado mais cedo, a nossa esperança era que o sol desenhado no mapa nos levasse para fora dali.
Após termos caminhado por pouco tempo no corredor, um cheiro pútrido toma conta no ambiente, era a latrina, como estava marcado no mapa, e logo à frente, avistei um corpo deitado, e não era de um goblinoide, me aproximei, e avistei mais três corpos, um elfo, dois humanos e um meio elfo, todos mortos por estocadas em frente uma porta, que segundo o mapa era chamada de “Aranha Espada”. Esse era mais um aviso para redobrar o cuidado, silenciosamente me comuniquei com meus companheiros e seguidos com muito cuidado na mesma direção, após alguns metros, avistamos uma luz no final do túnel, isso mesmo era uma luz no fim da caverna, nunca antes em toda a minha vida fiquei tão feliz em ver a luz do sol.




terça-feira, 14 de julho de 2015

[RELATO 4] - Devaneios de um Sacerdote - Eobald Thurion

Inexperiente, medroso e de pouca fé. Essas palavras são o ápice deste relato. Como foi que eu cheguei até aqui sendo o que sou? Outrora apenas um filho de um grande Duque, que servira ao reino de Cormyr nos seus dias gloriosos. Hoje, apenas um medroso que sucumbiu aos grandes Morcegos da caverna onde se encontra o Ogro Mago. Foi a melhor decisão a ser tomada? Onde estava a minha fé? Talvez não seja o sacerdote que pensara ser há algumas cavalgadas atrás. Um homem que dias atrás se jogou entre fendas dentro de um lago para salvar um Elfo que mal conhecia, tudo em nome da fé, acreditando nas bênçãos de Tyr. Com maestria e fé salvei Kheldrim, o arranquei daquela criatura sem nem pensar duas vezes, em nome de Tyr estava disposto a substituir sua vida pela minha. Aliás não o salvei apenas uma vez, e sim várias, mas são histórias passadas, onde a fé dominava meu corpo e minha mente, o pensamento em Tyr se sobressaía aos perigos que enfrentamos aos longos dos dias nesta caverna escura e totalmente estranha para mim. Nunca entrara em uma caverna antes, depositei minha confiança em pessoas que nunca tinha visto na vida. Um Humano, um Anão e um Elfo. Kheldrim se demonstrou ser uma pessoa reclusa, preferia a solidão a companhia de seus novos "amigos". por vezes conversava com o Anão, no começo era o que mais interagia com Kheldrim, os dois trocavam uma palavra ou outra, Oskar tentava puxar assunto e secamente Kheldrim respondia. Histórias e mais histórias para contar. Quem sabe quando acabar eu não pegue esse amontoado de papel e faça um livro? Mas, e se eu morrer? Bem, vamos continuar.

Era mais um dia ordinário em nossas novas vidas. Entrávamos na caverna, matávamos o que conseguíamos e deixávamos o local para voltar num momento mais preparado. Uma caverna escura e cheia de perigos, desde goblinóides a serpentes, passamos também por aranhas gigantes, um grande susto ao grupo, pois mais uma vez, Kheldrim quase morreu, e eu, mais uma vez procurei o salvar, sem pensar duas vezes. Mas no fim, acabei sendo salvo pelo anão e pelo debilitado mago, que sofreu muito em batalha também. Tyr mais uma vez, nos abençoou. A cada nova investida, a cada nova experiência, mentalmente agradecia ao meu Deus por ter me fornecido tudo o que atualmente eu tenho, ou pensava ter.

O grupo por um momento se separou, decidimos que eu e Edwin iríamos para Neverwinter, com as informações que Bastur  nos passou sobre o Ogro Mago, decidimos nos preparar, nos municiar para o que estava por vir. Nossa missão até ali tinha terminado, limpamos de certa forma a caverna, por isso recebemos duzentas moedas de ouro cada. Quando decidimos continuar e matar o Ogro, o prêmio mexeu com a cabeça de todos, Bastur irá encantar algum item que desejamos, o pensamento por poder era visível entre todos, com isso cada um estaria um passo a mais de cumprir seus objetivos. Voltando ao ouro, para mim não é uma grande quantia, mas percebi nas feições dos demais que o ouro agradou a todos, como cachorro com fome, ávido pelo pedaço de carne. O mago Edwin conjurou uma espécie de cavalo mágico, o qual nos ajudou a chegar com rapidez a Neverwinter. No caminho vi pássaros que antes nunca tinha visto, viajamos por um caminho seguro, que aos poucos estava se tornando familiar ao grupo. Pensei na minha casa, no aconchego de minha cama quente de penas, e como agora ela devia estar. Dominada provavelmente por aquelas criaturas imundas, pensei. Chegando em Neverwinter combinamos um horário adequado e seguimos nossos rumos separados. Fui diretamente ao templo de Tyr, onde lá orei por um tempo, solicitando forças e agradecendo pela vida e pelos novos amigos. Me senti renovado e dali fui conversar com um sacerdote, para que o mesmo me indicasse onde poderia conseguir algumas poções de cura, as quais iríamos precisar, e muito. O sacerdote me indicou o Acólito, aquele sem nome, sacerdote supremo do templo. Me dirigi ao grande jardim e lá ele estava, podando algumas plantas, calmo e austero. De longe passava uma aura forte. Segui em direção ao acólito. Minha inexperiência nos assuntos religiosos se fez presente na conversa, a qual não foi produtiva. Solicitei ao Acólito algumas poções e fui questionado de o por quê. Expliquei a nossa situação e troca recebi um sermão tão grande que ecoará pelos meus pensamentos por um tempo. - Sua fé em Tyr não basta sacerdote? Penso que você está fazendo isso não em nome dele, e sim em seu nome - Respondeu o Acólito. Com isso fiquei sem saber o que falar e me retirei do local, o pensamento pesava e as palavras me mercaram. Não tinha como comprar, sei que potes de cura são caros e pretendo guardar as peças para futuras aventuras que talvez venha realizar. Fui às docas, o mal cheiro e pedintes impregnavam o grande local, ali comprei tochas e óleo, me encontrei com Edwin, o mago foi em direção a uma taverna barata comprar vinho, por minha vez me dirigi ao Cálice Dourado, uma taverna de alto padrão, ali fiz amizade com o taverneiro, comprei presentes aos meus amigos, o qual pensei ser um modo de me aproximar mais do Oskar e do Kheldrim. Paguei 40 peças de ouro por 4 litros de vinho, 2 com sabor mais amadeirado e 2 com um sabor mais suave - Frutas da estação - Disse o taverneiro. Garrafas magníficas de cerâmica acomodavam cada litro de vinho, além de um queijo preto, o qual o simpático taverneiro me recomendou apreciar com o vinho doce, logo pensei em dividir o queijo com Kheldrim.

Me encontrei com Edwin no horário especificado e seguimos novamente em direção ao nosso acampamento. Pouco conversamos, cada um envolto em sua própria mente deturpada por eventos recentes, tantas novidades, tantos desafios, achávamos que aquilo não teria um fim, de cera forma não estávamos enganados, a caverna era grande e vários perigos espreitavam ali, sua paredes pareciam sussurrar palavras inaudíveis para nós, sempre achava que goblinóides estavam em nova volta, o qual nem sempre era um pensamento certo. Chegando ao acampamento me dirigi ao Oskar, entreguei dois litros de vinho e o mesmo bebeu como se não houvesse amanhã. Eu já esperava por isso, visto que os Anões apreciam mais uma boa cerveja que vinho. Tomei aquele gesto como uma forma de agradecimento, no fundo sabia que estava oferecendo um belo vinho a um Ogro, mas isso não vem ao caso, sua barba e sua expressão feliz me contentaram. A seguir conversei com Kheldrim, o abençoei como sempre e lhe mostrei as duas cerâmicas e o pedaço de queijo, logo percebi que o mesmo não espera um gesto e me agradeceu ao seu modo, conversamos um pouco e decidimos dividir o queijo em um momento mais oportuno. Como era um dia tranqüilo e ainda estava tarde, decidimos enfrentar alguns morcegos que se encontravam na caverna, os mesmos demonstraram serem grandes, porém nada impossível de se abater. - Se for para limpar a caverna, que não sobre nada então - Pensei comigo. Seguimos ao salão onde as criaturas se encontravam. A calmaria tomara conta do local, onde dias antes era infestada por criaturas vis. Seguimos eu e o Oskar lado a lado, com o mago e o arqueiro atrás. Era uma formação simples, mas que sempre nos forneceu uma base para as nossas conquistas. Chegamos e observamos, da mesma maneira que diversas vezes passamos por ali, os morcegos se encontravam, porém algo acertou a formação rochosa onde os Morcegos estavam instalados, e aquilo os provocou e os atraiu para nós. Nossas táticas foram ineficazes e vendo o que estava acontecendo, o desespero foi tomando conta do meu ser, 5 grandes Morcegos nos atacavam ferozmente, nossa estratégia básica foi por água abaixo e aos poucos meus amigos foram caindo, não conseguia acertar a minha maça com precisão, Oskar feriu gravemente um deles e com Kheldrim e Edwin caídos tomei a pior decisão em toda a minha vida. Gritei ao Oskar para que saíssemos dali, cada um pegaria o corpo de um amigo e correríamos para fora, sem cogitar a hipótese de ajudar os feridos ali mesmo peguei Edwin e num momento de inexperiência, medo e desespero corri. Fui sendo perseguido por 2 Morcegos, sentia minha fé fraca e o pavor de morrer numa caverna tomando conta do meu ser. O misto de emoções ruins impregnavam em meu coração. Percebi que estava cada vez mais escuro ali e quando realizei novamente estava na escuridão, não via um palmo na minha frente fiz uma prece para Tyr e abençoei o local com luz, minhas pernas trêmulas e um turbilhão de pensamentos me veio a cabeça, no desespero e despreparo consegui fazer com que o mago redobrasse sua consciência, o mesmo sem entender o que estava acontecendo se desvencilhou de meu braço e como por instinto se preparou para a batalha. Neste tempo já não sabia mais do Oskar, realmente achei que o mesmo faria o que anteriormente ordenara, mas pelo visto, não. Lutamos contra os Morcegos, ledo engano, quando percebi me encontrava caído, e novamente ao meu lado, o mago. Após isso sonhei com o templo, com Tyr e me via caminhando ao seu encontro, pedras e espinhos estavam sobre meus pés, a cada passo uma nova dor, no fundo sabia que estava sendo atacado pelos Morcegos, mas não me importava, estava a caminho do meu Senhor.         

[RELATO 4] - A Queda - Kheldrim, o Lobo Selvagem

“Lembram-se da autoconfiança, a qual eu citei anteriormente? Pois é, esqueci-me de comentar que ela também pode ser traiçoeira! Costumo dizer que nada nesse mundo é absoluto e, permita-me a redundância, em absolutamente tudo, há prós e contras. Calion me lembrava, insistentemente, todos os dias, em todos os treinamentos, que toda ação tem uma reação e que eu deveria, sempre, ponderar as opções e escolher o próximo passo com sabedoria. Nunca disse isso abertamente a ele, mas, na verdade, ele não precisava me lembrar disso, afinal, eu havia aprendido essa lição com seis anos de idade, ao presenciar a morte do meu pai. A ação do nobre que ordenou aquela chacina resultou na minha reação: matar todos da sua linhagem. Mas, enfim, isso é outro assunto. Sem mais devaneios, o ponto o qual eu quero chegar é que a autoconfiança é, sim, de fato, uma grande aliada, não só em batalha, mas em qualquer coisa que você faça na vida. Ela faz com que você não hesite, que você aja como se estivesse fazendo o seu melhor e isso, consequentemente, o transforma no melhor. Não há espaço para titubeios. Mas, há espaço para cegueiras e, isso acontece, geralmente, quando a arrogância se sobrepõe. A certeza de que você não titubeará passa a ser a certeza de que ganhará. Assim como um cavalo no cabresto você passa a enxergar apenas um caminho: a vitória. Torna-se descuidado, não pondera as opções e os diversos cenários que a sua ação pode desencadear. Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver. Acho que essa definição se encaixa perfeitamente a esse relato.

Na manhã seguinte ao ataque das aranhas gigantes, Bastur, o mago da guilda de Lua Argêntea, responsável pelo contato conosco nos últimos dias, apareceu conforme programado. Nossa aparência era terrível, com exceção do anão. Parecia que estávamos com uma ressaca daquelas e que a noite anterior havia sido uma farra completa. Talvez, num primeiro momento, Bastur tenha pensado isso. Mas o sacerdote deu-se o trabalho de explicar o que havia acontecido. Aquilo não me agradava, dar satisfações a alguém. Na minha concepção, rebaixar-se a alguém é perder a essência de si, é atestar que o outro é melhor que você. Por isso, eu falava apenas o necessário para descobrir o que me interessava. A conversa se prolongou por alguns minutos até que o mago, finalmente, tocou em um assunto o qual me interessava:

– Enfim, a minha vinda até aqui é para informa-los que conseguimos obter algumas informações do Gnomo.

– E quais são? – perguntou Edwin, visivelmente curioso a inquieto.

– Bom, descobrimos o que é a criatura de pele roxa – segundos de silêncio se passaram e, percebendo que estávamos aguardando a resposta, o mago de Lua Argêntea continuou – Na verdade, chegamos a uma conclusão por meio de fragmentos de informações que o Gnomo nos forneceu, porque se fôssemos esperar uma resposta concreta, direta, por parte dele, não conseguiríamos nada. Ele é uma criatura inocente, sabe? A única coisa que interessa para ele é um pedaço de papel, tinta e pena para que possa desenhar suas maluquices e genialidades. Enfim, a criatura a qual ele comentou é um Ogro, Mago, de duas cabeças – nos olhou em seguida para analisar a nossa reação.

A partir dai Eobald e Edwin questionaram várias coisas para Bastur, que respondeu o que conseguiu, dando dicas sobre a criatura, como as magias que ele poderia utilizar contra nós, seus pontos fracos, sua habilidade de regeneração, entre outras informações. Ao final, quando não havia mais perguntas e o silêncio reinou por mais de trinta segundos, o mago de Lua Argêntea disse:

– Vejam, tenho outra notícia. Uma proposta, na verdade. Assim que soubemos que a criatura era essa, conversamos com nossos superiores e decidimos pagar-lhes por seus serviços até o momento – ele parou por um instante, novamente para ver a nossa reação de surpresa e seguiu – E, a partir disso, faremos a seguinte proposta: se aceitarem entrar e eliminar o Ogro, lhes concederemos um item mágico, digo, adicionaremos um benefício mágico em algum equipamento que vocês possuam. A convivência com um Wyvern é tranquila e podemos até utiliza-o a nosso favor, mas, um Ogro Mago não é uma boa companhia e tenho certeza de que ele pensa o mesmo de nós.

Olhamo-nos por alguns segundos, intrigados e até mesmo surpresos com tal proposta. Como ninguém se prontificou a aceitar ou pelo menos dizer algo, questionei:

– Quanto tempo temos para lhe dar a resposta?

– Hmm, até o final dessa cavalgada, mestre elfo – ele respondeu.

– Certo, e o nosso pagamento até agora? – questionei-o.

– Oh, está aqui – disse o mago, voltando-se para seu cavalo e abrindo duas bolsas presas a lateral esquerda do mesmo. Em seguida, retirou quatro pequenas bolsas e nos entregou – duzentas peças de ouro para cada um – disse ele.

Trocamos alguns olhares, satisfeitos com a recompensa e, logo, começamos uma conversa sobre a proposta que nos foi feita. Bastur, excluído da conversa, interrompeu-nos para se despedir e, num passe de mágica, sumiu. Voltamos à calorosa discussão sobre o que faríamos, ponderamos algumas opções, mas não chegamos a uma decisão final. Ao invés disso, Eobald e Edwin informaram que precisariam ir até a cidade para comprar alguns itens, enquanto eu e Oskar ficaríamos na base montada diante da entrada da caverna. Solicitamos que os dois comprassem vinho, afinal, merecíamos uma pequena comemoração pelas conquistas até ali. Bastur havia comentado que o outro grupo que ainda restava, não retornara desde o dia anterior, o que fazia de nós o único grupo sobrevivente até então. Mais um motivo para comemorar, ou não.

Algumas horas depois, o mago e o sacerdote retornaram, trazendo o vinho que pedimos, além, é claro, dos itens que precisavam. Edwin comprara dez litros de vinho comum enquanto Eobald nos presenteara, a mim e ao anão, com dois litros de vinhos especiais, acondicionados em dois recipientes de cerâmica de ótima qualidade. Oskar bebeu uma das garrafas como se fosse água, eu os guardei para outra ocasião.

Assim que os dois terminaram de se organizar, nos reunimos e conversamos sobre o que faríamos. Naquele tempo em que eles estiveram fora, pensei no que poderíamos fazer e disse-lhes:

– Bom, em todas as vezes que entramos na caverna eu nunca havia percebido vestígios da existência de aranhas. Há vários motivos para elas aparecerem nesse momento, pode ter sido uma simples coincidência ou, o que eu julgo o mais provável, elas foram incitadas pelos goblins, utilizando-as para fazer o trabalho que eles não conseguiram até então: matar-nos. Se podemos tirar algo de bom dessa última luta com as aranhas, é que agora conhecemos todas as partes da caverna por onde passamos, desde a entrada até o casebre do Gnomo e, diante disso, sabemos que as únicas criaturas, com exceção dos goblinóides, que ainda restam em nosso caminho, são os morcegos. Nada impede os goblins de utilizarem eles para nos atacar, assim como fizeram com as aranhas. Enfim, resumindo, minha sugestão é entrarmos agora e irmos até os morcegos, os matamos e voltamos para cá. Amanhã seguimos adiante. O que acham?

Todos concordaram e, diante disso, começamos a nos arrumar para mais um ataque ao interior da grande formação rochosa. Como iríamos somente até o salão dos morcegos, faríamos o que tínhamos de fazer e voltaríamos. Teoricamente seria rápido e não nos preocupamos em traçar estratégias ou programar um plano B. A nossa autoconfiança estava à flor da pele e sabíamos que seria fácil, rápido e logo estaríamos sentados à entrada da caverna novamente, comendo carne de lebre assada, bebendo um bom vinho e jogando conversa fora. Bom, esse era o plano inicial. Na verdade, esse era o único plano.

Avançamos pelos corredores e salões sem maiores problemas. Chegamos rapidamente ao corredor que levava ao grande salão dos morcegos. Assim que nos aproximamos, Edwin fechou a lanterna furta fogo, escurecendo tudo ao nosso redor para que Oskar pudesse utilizar sua visão, melhorada no escuro, e verificar quantos morcegos estavam no local. Eu estava pensando em algumas estratégias de como acabar com eles quando Oskar voltasse com mais informações: se estivessem todos juntos, alguém poderia jogar uma garrafa com óleo e, em seguida, eu atiraria uma flecha com fogo ou, poderíamos preparar uma garrafa com óleo para explodir com o impacto ao ser lançada em direção as criaturas, não era nada difícil, afinal, eu tinha tecido, tínhamos formas de fazer fogo e um clérigo ou anão ambos com força suficiente para lançar o vidro. Esses pensamentos fluíam em minha mente e a vitória era certa. De repente, no meio desse devaneio vitorioso, um ruído quebrou o silêncio que pairava no ar. Lembrei-me nesse exato momento de que não havíamos pensado no que faríamos se eles acordassem antes de conseguirmos ataca-los. Não pensei no que faríamos se os sons dessa luta atraíssem mais robgoblins. No que faríamos se os morcegos fossem mais fortes do que eu imaginava. Fomos negligentes. Fui, negligente. Logo eu, treinado para traçar estratégias de ataques furtivos, para perceber os detalhes, as situações, as ações e reações. Não percebi o óbvio: se eles utilizaram as aranhas contra nós eles com certeza utilizariam os morcegos e já estariam nos esperando para isso. Bastava adentrarmos ao salão e ficarmos no alcance dos morcegos. No mesmo instante em que esse balde de água fria gelou a minha espinha de cima a baixo, escutei passos do outro lado da grande sala, do lado oposto de onde Oskar estava e, em seguida, um barulho curto, como se uma pedra batesse contra alguma superfície no meio do salão. Os passos tornaram-se rápidos e estavam seguindo para o corredor a nossa frente, afastando-se. Sons de asas se abrindo, cortando o vento, começaram a surgir. Edwin abriu novamente a lanterna furta fogo, iluminando a sala e, então, vimos as grandes criaturas sobrevoando o local e vindo em nossa direção. O anão voltara correndo, gritando ‘PREPAREM-SE!!’. Tentei reformular todos os meus pensamentos e estratégias. Não seria difícil acerta-los com minhas flechas, mas, talvez fosse difícil para o anão e para o sacerdote acerta-los do chão, tendo em vista que eram criaturas extremamente ágeis. Diante disso, rapidamente, pensei em imobilizar pelo menos um deles com minha rede de pesca e, em seguida, começar a distribuir minhas flechas pelo salão. Pensando nisso, guardei meu arco e minha flecha e comecei a tatear a minha bolsa a procura da rede. Nesse momento, recebi uma pancada seguida por um corte no rosto. Esses animais eram muito rápidos. Assim que achei o que queria, retirei da bolsa e, no momento em que abria a rede para lança-la ao ar, um dos morcegos que estava atacando Edwin veio para cima de mim. Só então percebi que o mago havia sucumbido aos ataques do predador. Fiz um movimento a fim de lançar a rede em cima desse morcego, mas ele foi mais rápido e acertou-me um ataque feroz, na cabeça, fazendo-me tombar para trás. Tudo ficou embaçado. Meus sentidos estavam alterados, não conseguia ouvir nada além de um zumbido. Não conseguia me mover, estava fraco. As palavras não saiam. Nesse tempo, forçando meu corpo a voltar a me obedecer, pude ver Oskar caindo, sem controle do próprio corpo. Sucumbira também aos ataques. Antes disso, lembro-me de ter visto o sacerdote pegar o mago, joga-lo no ombro, gritar algumas palavras, as quais não escutei, olhando para mim e, em seguida, correr. Ele estava fugindo, salvando Edwin, pensei. Parei de tentar retomar o controle do meu corpo. Interrompi qualquer tentativa de me mover. Recostei a cabeça ao chão. Olhei para o escuro da caverna. Concentrei-me nos sons ao meu redor e tudo o que eu ouvia eram as asas dos grandes animais cortando o vento acima de mim. Eobald e Edwin não conseguiram, pensei comigo. Fechei os olhos. Quando os abri novamente, eu estava fora da caverna, como num passe de mágica, tal qual Bastur usara para ir embora horas antes. Estavam todos lá, na nossa humilde base que montamos na entrada da caverna e que há dias era o nosso lar. Entretanto, havia mais árvores, o sol estava no seu auge e um lindo lago azul umedecia a paisagem. Pássaros voavam e cantavam alegremente. Nuvens dançavam no céu ao som da brisa leve e morna de verão. Sorri. Fechei os olhos para não mais abri-los e deixei-me levar pelo êxtase do fim.”

[RELATO 4] - Blerj, o goblin! - Marcus Brisolla, Mestre da Masmorra

Blerj era um goblin astuto, quando seu clã foi subjugado pelo ogro mago logo se destacou e caiu nas graças do “Poderoso”, como eles o chamavam. Eles estavam sob ataque há dias e Blerj conhecia muito bem o complexo de cavernas e seus perigos, quando o “Poderoso” lhe disse o que fazer para os monstros tornarem-se armadilhas contra os invasores ele não pestanejou! Era sua chance de ficar mais próximo do seu amo e ganhar mais status no seu clã, faltava pouco para o mestre ver que ele era melhor líder do que Fortul. Nem Blerj podia acreditar em tanta sorte quando viu os morcegos gigantes indo em direção aos feixes dourados que os inimigos carregavam, escutou o som das batidas secas, gemidos e gritos, por fim tudo tornou-se silencio apenas a luz continuava a incomodar seu olhos. Quando finalmente decidiu checar não pode acreditar novamente, os quatro habitantes da superfície estavam caídos, prostrados sem reação, mais sorte, mais status! “Vou mata-los e levar suas cabeças como prova!” pensou, porém, notou que dois ainda estavam conscientes, bateu forte na cabeça deles e os desacordou, os outros dois morreriam logo se ele não fizesse nada. Blerj então teve uma ideia, se ele levasse os quatro vivos para o Poderoso seria ainda melhor e seria a chance de seu mestre recuperar seu gnomo maluco usando os quatro para saber onde ele esta! “É isso!” pensou alto. Pressionando seu dedos sujos contra os ferimentos e amarrando panos, ele estancou os sangramentos, colocou os quatro lado a lado na parede e correu para seu amo!

segunda-feira, 13 de julho de 2015

[RELATO 3] - O Covil Aracnídeo - Kheldrim, o Lobo Selvagem

“Há uma linha tênue entre a autoconfiança e a arrogância. Por vezes, uma sobrepõe a outra, quase imperceptivelmente. Controlar esses dois conceitos distintos e ao mesmo tempo tão próximos é um desafio que, se bem sucedido, torna-se um grande aliado em qualquer batalha, física ou psicológica. Mas, afinal, seria isso um defeito ou uma qualidade? Há quem diga o contrário, contudo, para mim, essas são qualidades indispensáveis para qualquer guerreiro e, portanto, indispensáveis para mim. Ora, como eu poderia atirar uma flecha a 30 metros de distância, com visão deturpada e vento a favor do alvo sem autoconfiança? Seria o mesmo que um guerreiro empunhar uma espada sem a força necessária para utiliza-la. O fracasso e, consequentemente, a morte, seria questão de tempo. Calion me ensinara bem e, com o tempo, a autoconfiança surgiu naturalmente. Eu me sentia capaz de tudo. Eu era o melhor no que fazia, definitivamente. Bom, pelo menos, era como eu me sentia até o momento em que resolvi me aventurar naquela caverna. Lá, pude perceber que, de fato, eu até poderia ser o melhor no que eu fazia, dentre as minhas experiências vividas até ali, porém, ainda havia muito que aprender. Eu conhecia apenas na teoria as cavernas. Sabia de suas estruturas e de algumas aberrações que lá viviam. Mas nunca havia adentrado e muito menos batalhado dentro de uma. A minha visão, que me diferenciava de muitos, não me ajudava ali. A minha estratégia de lutar em campo aberto e aproveitar a natureza a meu favor não servira até o momento. A minha independência em batalha, oriunda da minha versatilidade e motivo da minha autoconfiança (ou arrogância) mostrou-se frágil naquele local. Além de perceber que eu ainda precisava aprender muito para ser metade do que meu mentor foi, lembrei-me de que precisei ser salvo mais de duas vezes por humanos. Naquele momento, eu aprendi algo que até então era desconhecido para mim, talvez escondido entre os meus sucessos em missões e minha raiva incubada. Naquele momento, eu aprendi o significado de humildade.

Após sermos surpreendidos pela ousadia dos goblinóides em nos emboscar na entrada da caverna, voltamos para o lado de fora a fim de reagruparmos e reanalisarmos o cenário. Era hora de traçarmos uma estratégia diferente. Percebemos que havia algumas ferramentas, se assim podemos chama-las, a nosso favor. Havia metade de uma estrutura de fácil locomoção, com quatro bestas leves presas prontas para atirar ao mesmo tempo com um único puxar de corda. Havia também duas lanças longas e dois pequenos goblins. Conversamos rapidamente e decidimos que o anão e o sacerdote iriam à frente, empunhando as lanças com as pequenas aberrações presas na ponta de cada uma delas. No outro braço, carregariam o escudo levantado. O mago iria carregar a engenhoca e eu iria à retaguarda, com meu arco e flechas de fogo preparadas. Em relação a luz, amarramos com pedaços de tecido a lanterna furta fogo ao corpo do goblin preso na lança de Oskar. Seguimos adiante.

Conseguimos andar uma boa parte da caverna sem complicações ou sinais de uma nova emboscada. Paramos por um momento para o guerreiro descansar o braço e, nesse momento, tive a clara impressão de ouvir movimentação à frente. Avisei aos outros com um aceno de cabeça e continuamos, com cautela redobrada. Estávamos chegando ao lago onde anteriormente eu havia sido atacado por uma serpente gigante e salvo pelo sacerdote. Os sons vinham do corredor à esquerda, após a curva acentuada que teríamos de fazer. Oskar informou-nos, com sussurros quase inaudíveis, que iria se aproximar da curva e colocar a lança com o goblin e a furta fogo no campo de visão do outro corredor, assim poderíamos ouvir algo se houvesse alguma reação. Silêncio. Foi isso o que ouvimos. Não houvera reação alguma, portanto, os sons de movimentos que eu ouvira anteriormente estavam mais a frente. A acústica daqueles corredores naturais dificultava a percepção da distância entre a nossa posição e a origem dos ruídos. Todos assentiram com um leve movimento de cabeça e continuamos. Realizamos a curva acentuada lentamente, quase que aguardando um ataque assim que adentrássemos no próximo corredor. Segundos de tensão se passaram e assim que ficamos no ponto de visão da escadaria que descia após a curva, respiramos aliviados, pois, nada havia acontecido e o caminho estava livre naquele local. Assim que eu baixei meus braços e aliviei a tensão da corda do meu arco, soltei a respiração com um leve suspiro. Quando dei o primeiro passo para seguir adiante, senti um peso em minhas costas e uma dor excruciante. Em seguida, caí no chão, sem forças para me mover. Antes de cair, pude perceber algo nas costas de Edwin, que estava bem a minha frente: uma aranha gigante. O que aconteceu a seguir ainda é uma série de cenas confusas para mim, como flashes, pois, embora eu não tivesse forças para me mover, muito menos para falar, eu estava consciente, conseguia ver e ouvir tudo o que acontecia ao meu redor. Pude perceber, antes de sucumbir à picada do inseto gigante, o mago tirando a criatura das suas costas e lançando-a para trás, próximo a mim. Já no chão, vi Oskar tentando correr em nossa direção para nos ajudar, mas, não conseguir por falta de espaço no estreito corredor. Percebi também a aranha que havia picado o mago pulando novamente em direção a ele. De repente, não via mais eles. Apenas uma parede a minha frente. Percebi que estava sendo arrastado pela aranha que me atacara. Se o que eu sabia sobre as aranhas estivesse certo, ela me levaria para o seu ninho, me enrolaria sob uma manta de teia e me deixaria ali até a hora em que ela precisasse se alimentar. Eu era sua presa, seu alimento. Sabia que eu ainda tinha um certo tempo, pois, ela não me comeria agora. Bom, eu queria acreditar nisso, afinal, era minha única chance de sair vivo. Lembro-me que foi exatamente isso que aconteceu, ela me levou rapidamente para seu ninho, um buraco não muito grande do outro lado do lago de onde surgira a serpente que quase me matou em outra ocasião. Cobriu-me com sua teia, girando-me com suas patas e, em seguida, pendurou-me de cabeça para baixo a frente do seu ninho. Eu fiquei ali, no escuro, balançando e, por vezes, girando, ouvindo os sons distantes da briga entre meus companheiros e a outra aranha e os ruídos que a minha predadora fazia. Era assustador. Alguns minutos se passaram e, de repente, uma forte luz iluminou o covil dos aracnídeos. Percebi rapidamente que era um local não muito grande, com dois buracos nas paredes ao meu redor, onde presumi serem os ninhos das duas aranhas gigantes. O chão, repleto de teias e ossos. Quando olhei para frente, em direção à entrada do pequeno covil, vi a silhueta de um humano e quando meus olhos se adaptaram a luz vinda daquela direção, percebi que era Eobald parado, em pé, com sua maça na mão pronta para acertar a aranha que a essa altura estava saindo do ninho e pulando em direção a ele. Não pude ver se ele acertou ou o que aconteceu a seguir, pois, meu corpo virou-se para o outro lado. Quando voltei, o inseto gigante estava com a lateral machucada, o sacerdote havia acertado o golpe, mas, ela estava em cima dele, atacando-o ferozmente. Meu corpo virou-se novamente. Segundos de angustia passaram-se até meu corpo retornar a posição que me permitia ver o que acontecia e o que eu vi foi o corpo do sacerdote no chão, sem reação, e a aranha pronta para mata-lo. Por mais que eu tentasse, por mais que me esforçasse, não conseguia me mover. Queria saltar em direção àquela aberração e mata-la com minhas próprias mãos! Não suportaria o fato de que alguém morresse tentando me salvar! De repente, no exato momento em que a aranha investiu contra Eobald, uma luz percorreu o salão rapidamente e chocou-se contra o grande inseto, que se encolheu e tombou ao lado do sacerdote. Ao olhar para o outro lado do salão, percebi Edwin, debilitado, segurando-se em uma estalagmite. Ele utilizara a pouca força que ainda restava em seu corpo para salvar as nossas vidas. Oskar chegou segundos depois no covil, utilizou uma poção que Bastur havia nos dado dias antes para reanimar o sacerdote. Em seguida, me soltaram e utilizaram a minha poção para me reanimar. Saímos da caverna lentamente, pois, com exceção do anão, estávamos todos debilitados por causa do veneno das aranhas.

A primeira coisa que fiz quando retomei as forças para falar foi agradecer Eobald. Ele não poupou esforços para vir atrás de mim, mais uma vez. Talvez todos os anos que passei sozinho, com Calion, nas florestas, tenham me tornado alguém independente, arrogante, autoconfiante e receoso em relação a outras pessoas. Mas, naqueles últimos dias, percebi que o trabalho em equipe era essencial e que nem sempre se consegue tudo sozinho. Não há vergonha alguma em precisar de ajuda, na verdade, vergonhoso é precisar de ajuda, e não admitir. Eu costumava ser vergonhoso.”

segunda-feira, 29 de junho de 2015

[RELATO 2] - O Gnomo - Kheldrim, o Lobo Selvagem

“Fim da linha. Esse foi meu primeiro pensamento ao avistar o fim do corredor. Não havia como continuarmos pelo caminho em que as pegadas do Hobgoblin arqueiro seguiam, pois, à nossa frente, o corredor se fechava. Naquele local, as paredes a nossa volta foram claramente trabalhadas, desgastadas de forma com que o estreito corredor se alargasse. Não demorou muito para perceber o óbvio: não se tratava do final do corredor, mas, sim, de uma entrada bloqueada por uma espécie de porta, grande, de pedra. Após alguns segundos analisando o local, tentando absorver e entender o que se passava a minha volta, ouvi o mago balbuciar algumas palavras e, em seguida, dizer em voz alta:

– 65 soluciona, empurre o que não está no alfabeto.

– O que isso significa? – respondi.

– Não sei, mas está escrito ali em cima – disse Edwin apontando para cima – também há uma espécie de quadro aqui no meio, com umas pedras que se parecem com botões. Algumas dessas pedras estão com um número inscrito e outras em branco. Creio que seja uma espécie de charada, um desafio, onde a resposta nos indicará qual botão apertar para abrir a porta.

‘Charada? Não entendo dessas coisas e tenho certeza que um Hobgoblin também não’ pensei comigo. Não dei muita atenção às palavras do mago e continuei procurando por uma solução prática, alguma entrada secreta, alguma falha na parede, uma passagem de vento ou qualquer coisa que pudesse, de fato, nos ajudar a seguir adiante. Procurei, tateei, ouvi. Nada. Meu sentido aguçado não localizou algo que pudesse ser uma passagem secreta e tampouco alguma falha nas rochas ou passagem de ar. Estava tão concentrado nos detalhes das rochas, procurando alguma imperfeição, que não percebi a conversa entre os outros integrantes do grupo, provavelmente discutindo a solução da suposta charada, que seria a chave para abrir a porta. Quando virei-me de volta à eles, a fim de tentar encontrar alguma outra solução e discutir a situação, percebi que Edwin havia apertado um dos botões. O silêncio tomou conta do lugar, mas, por apenas alguns segundos. O mesmo foi interrompido por sons de mecanismos e engrenagens trabalhando, seguidos pelo som do atrito entre as rochas. De repente, uma mistura de poeira e pequenas pedras começaram a cair do teto e uma abertura começou a surgir acima de nós. Por um momento, pensei ‘se o mago estiver certo e a abertura da porta está condicionada a resposta de uma charada, significa que os botões errados podem desencadear armadilhas’. No mesmo momento em que terminei o pensamento, uma espécie de mão, ou pata, não sei identificar e não me lembro ao certo, apareceu pela abertura. Instantes depois, uma criatura saltou para dentro do corredor, parando em nossa frente. Por instinto, peguei meu arco e uma flecha e, no momento em que iria preparar o disparo, uma onda de pavor tomou conta de mim, interrompendo todo e qualquer movimento que eu estava prestes a realizar. Não conseguia me mover. Uma vontade insana de me encolher no chão em posição fetal passou a dominar a minha mente. Caí sentado no chão e recuei até sentir a porta gelada em minhas costas. Meus olhos estavam arregalados e fixos na criatura, minha respiração e batimento cardíaco fora de ritmo.  Os instantes que se passaram não estão claros na minha memória, lembro-me que Edwin lutou sozinho contra a criatura e a matou. Assim que ele desferiu a magia que culminou na morte do monstro, aquela sensação de pavor sumiu e eu pude novamente controlar os meus movimentos.

– Eu... eu não consegui me mover... – disse hesitantemente.

– Eu também não – repetiu o anão.

– Acho que ele tinha algum tipo de poder psíquico, consegui ouvi-lo em minha mente – explicou Edwin, com um ar de satisfação por ter finalizado, sozinho, a criatura – bom, definitivamente a resposta da charada não é o número 11.

– E você consegue decifra-la? – perguntei.

– Não sei, preciso de tempo e concentração. Deve ser algo relacionado a matemática – disse Edwin, com o braço direito sobre o peito e o esquerdo apoiando-se no mesmo, levando a mão até a boca, com o olhar fixo nos botões e seus números.

Após isso, deixamos Edwin estudar a charada e se concentrar na solução da mesma. Eu me recompus e voltei a analisar as rochas, procurando, insistentemente, alguma falha. No fundo, sabia que não encontraria nada, mas, me frustrava o fato de não conseguir ajudar no desafio então tentei me concentrar no que era bom. Algumas dezenas de minutos depois, Edwin soltou um suspiro misturado com um sorriso de satisfação e disse:

– Acho que consegui! É esse o botão! – disse, em um tom exaltado, visivelmente satisfeito por ter conseguido, a princípio, decifrar a charada.

Nesse mesmo instante, armei o arco cuidando a retaguarda do grupo e disse:

– Aperte!

Assim o mago fez e, em seguida, ouvimos novamente o barulho de mecanismos, engrenagens e atrito de rochas. Mas, dessa vez, a grande porta se abriu atrás de mim. Olhamo-nos por um breve momento e adentramos o novo corredor. Verifiquei o solo e confirmei que as pegadas continuavam a frente. Apagamos a lanterna para que o anão pudesse analisar o corredor a nossa frente, porém, não identificou nada de diferente. Seguimos adiante pelo novo corredor sem saber o que nos esperava. Após alguns metros de caminhada, pudemos perceber claramente uma fonte de luz, ainda fraca devido a nossa distância, mas existente. Ao chegarmos próximos dessa fonte, diminuímos o ritmo e avançamos calmamente, tentando diminuir o risco de sermos avistados ou ouvidos. A fonte de luz era uma espécie de arandela presa no alto da parede lateral direita e, assim que a alcançamos, percebemos que havíamos entrado em uma grande sala, com um lago no meio e, no centro do lago, um pequeno casebre, feito de madeiras entrelaçadas presentes no interior daquelas águas calmas. Na frente, um pequeno bote do mesmo material da casa. No interior havia luz, assim como atrás da casa, na parede, onde estava fixada outra arandela. Olhamo-nos e aguardamos um momento. Se havia alguém lá dentro, não nos avistou ou ouviu, pois, nada aconteceu. Recuamos um pouco e ponderamos o que poderia ser aquilo e o principal, o que ou quem estaria lá dentro? Ponderamos a opção de atear fogo na casa por meio de uma flecha e todos concordaram, inclusive o sacerdote, mesmo que hesitantemente, pois, segundo ele, a melhor opção seria ir até o casebre e conversar com quem estivesse lá. ‘Que ideia estúpida!’ pensei comigo, mas não levei adiante o assunto, já que a decisão mais racional fora acordada. Preparei a flecha, com tecido e óleo. Oskar e Eobald recuaram, o mesmo que Edwin fez após acender a flecha para mim. Mirei e atirei. A flecha viajou pelo salão e, como previsto, acertou a parede entrelaçada de madeiras. Peguei outra flecha e armei o arco, apontando para a entrada da pequena casa. Se algo saísse por ali, estaria na minha mira. O fogo se alastrou muito lentamente, a umidade e má qualidade da madeira não nos ajudaram nesse ponto. Entretanto, alguns segundos depois, a porta se abriu. Uma pequena criatura, com bigode branco e sem expressão saiu e olhou para a flecha e o fogo. Olhou para mim, ainda sem expressão, e voltou para dentro dos seus aposentos.

– É um Gnomo! Ele voltou para dentro! – disse incrédulo, recolhendo o arco e a flecha.

– Gnomo? Suspeitava que deveria haver um por trás dessas tecnologias. Cuidado, eles são muito inteligentes! – adicionou Edwin.

Em seguida, quando os três voltavam para perto de mim, ouvimos o barulho de algo sendo arrastado e avistamos o pequeno ser levando um baú para fora da casa e, próximo ao bote, retirando alguns papéis e roupas e jogando-os dentro da pequena embarcação. Subiu e começou a remar em direção a margem. Edwin e Eobald foram atrás dele e o que aconteceu a seguir foi uma série de tentativas falhas de falar com o pequenino, sendo amigável ou intimidador, não obtivemos resposta. Decidimos, então, leva-lo para a Guilda de Magos de Lua Argêntea, eles certamente conseguiriam arrancar algo dele. Entretanto, nesse meio tempo, um grupo composto por um Hobgoblin e três Goblins chegou até a gente, mas, nada que tenha nos complicado. Na verdade, o complicado nesse momento foi a fuga do Hobgoblin, que estava claramente preocupado com o sequestro do Gnomo. Assim que eu o vi fugindo, no breu, armei o arco, concentrei-me e fechei os olhos, ouvindo atentamente seus passos, correndo para longe. Inspirei profundamente, tensionei a corda e disparei, abrindo os olhos em seguida. Busquei por algum som que pudesse indicar o corpo do fugitivo caindo no chão ou pelo menos um gemido de dor. Nada. Ele fugira e eu sabia que isso nos custaria caro.

Conseguimos sair da caverna e decidimos que Edwin e eu levaríamos o Gnomo até a tenda da Guilda, pois, seria uma perda de tempo aguardar Bastur, o mago que viria apenas na manhã do próximo dia a procura de novidades. O anão e o sacerdote ficariam de guarda na entrada da caverna. Partimos imediatamente e, algumas horas depois, chegamos à tenda. Edwin explicou tudo para Bastur e conseguiu, por meio da escrita, se comunicar com o Gnomo, utilizando o alfabeto encontrado com os Goblins, o qual havia decifrado nos últimos dias. Segundo a pequena criatura, ele era o responsável por todas as tecnologias que encontramos até agora e o líder deles era uma criatura mágica de pele roxa. De importante, apenas isso foi extraído.

Na manhã seguinte, após a visita programada de Bastur, que não nos trouxe muitas novidades, seguimos nosso caminho a procura da suposta criatura indicada e descrita pelo Gnomo. Assim que começamos, eu disse a todos:

– Fiquem atentos! Tudo o que conhecemos dessa caverna, estará diferente. O líder deles deve estar sabendo do sequestro do pequeno engenheiro e com certeza nos fará uma surpresa de boas vindas!

Todos concordaram e, assim, seguimos adiante. Não demorou muito para recebermos as tais boas vindas. Logo no corredor de entrada, ouvimos sons familiares de mecanismos sendo ativados, mas, vários ao mesmo tempo. Segundos depois tive a certeza de que já tinha ouvido isso antes, vários virotes de besta foram lançados em nossa direção, tendo pelo menos dois deles me acertado e uma quantidade maior acertado o anão que estava na minha frente. Não conseguia enxerga-los e mais uma vez me senti frustrado por estar em uma área a qual não me sinto a vontade, sem espaço, sem opções, sem visão clara. O mago escondeu a luz emitida pela lanterna e dessa forma Orkar conseguiu ver e nos avisar que haviam duas estruturas de madeira, com pelo menos três Goblins atrás. Essas estruturas estavam preparadas com várias bestas. Mesmo sem enxergar, após o aviso do anão, armei meu arco com uma flecha preparada para receber fogo e pedi para Edwin abrir a lanterna para que eu pudesse mergulhar a ponta da flecha e fazê-la queimar. Tentei presumir de onde vieram as flechas e, com isso, onde estavam as estruturas. Segundos depois, atirei, a esmo. A flecha seguiu seu voo iluminando o corredor, passando entre as duas estruturas e sumindo atrás dos Goblins, com sua chama se apagando. Em seguida, ouvi um grito e um estrondo de uma forte batida, metais e madeiras se chocando. Uma luz apareceu nos pés das estruturas e pude perceber o anão engajado em luta corporal com um Goblin, no meio daquela confusão. O sacerdote largou sua clava e pegou sua besta leve, mesmo sem ter perícia suficiente para maneja-la, para tentar ajudar de alguma forma, já que não conseguiria chegar até Oskar a tempo. Edwin tentou encontrar abrigo no meio daquela loucura para conseguir se concentrar e lançar algum feitiço. Nesses incontáveis milésimos de segundos, onde várias coisas aconteceram ao mesmo tempo, onde tudo se passava em câmera lenta aos meus olhos, peguei a última flecha preparada para fogo, pedi a Edwin que abrisse a lanterna novamente e armei o arco, cuidadosamente, com calma, analisando o movimento de tudo ao meu redor, das faíscas geradas a partir do encontro entre os metais de Oskar e dos Goblins, a poeira levantada pelo movimento dos nossos pés, o suor escorrendo da testa de Eobald e, de repente, tudo parou, um silêncio tomou conta de mim, da minha mente e pude ver claramente o meu alvo, era apenas eu e o filete de madeira responsável por disparar pelo menos quatro virotes ao mesmo tempo. Estava ali, na minha frente, bastava eu soltar os meus dedos para ver a flecha voar, sutilmente, em direção a estrutura. E assim aconteceu. Meus olhos se fecharam e, ao se abrirem novamente, meus dedos deixaram a tensão da corda realizar o trabalho de impulsionar a flecha, que atingiu em cheio o meio da geringonça criada, provavelmente, pelo Gnomo. Ela pegou fogo instantaneamente, fazendo o Goblin atrás dela gritar de susto e solta-la. A partir dai, como nas outras batalhas, foi um misto de sangue, grito e ódio. Eliminamos um por um, até não restar uma respiração sequer de qualquer criatura que ali estava. 

Eu estava certo de que o sequestro do Gnomo geraria esse tipo de situação. Mas não achei que eles seriam tão ousados de nos esperar assim, tão perto, quase na entrada da caverna. Assim como soube que isso aconteceria, sabia, agora, que não poderíamos continuar dessa forma. Teríamos que mudar a estratégia para conseguir chegar ao fim do jogo. Para isso, tínhamos uma estrutura móvel, com quatro bestas leves, para nos ajudar. Tínhamos duas lanças grandes e três pequenos Goblins no chão. Era hora de surpreender os nossos anfitriões. Era hora de guerra."